VOCÊ
É UM HOMEM DE DEUS?
“Assim, pois, importa que os homens
nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus”.
(1Co 4.1)
“Pastor, você é um homem de
Deus?”
Esta pergunta foi ouvida por um
pastor quando este chegara ao hospital para visitar uma senhora enferma, a
pedido de um membro da igreja onde pastoreava. Na verdade, a mulher sabia que
aquele homem era um pastor, porém sua pergunta era mais profunda e por isso
precisamos refletir sobre ela ainda hoje. As pessoas não estão muito
preocupadas em saber se você é um pastor, um mestre de teologia ou um doutor,
mas precisam estar absolutamente seguras de que aquele que lhes fala desde o
púlpito, é um verdadeiro homem de Deus.
Minha conversão ao evangelho ocorreu em 1972, quando
participava de um culto numa pequena igreja de língua alemã, no interior do Rio
Grande do Sul. A mensagem fora toda em alemão e eu não entendia nada do que o
pregador falava, mas o Espírito Santo operou de forma tão poderosa em minha
vida que de repente me encontrei de joelhos diante do altar em lágrimas,
desejando uma nova vida. Descobri o quanto era pecador e queria ter meus
pecados perdoados, meu coração limpo pela Palavra de Deus.
Foi muito emocionante
essa experiência com Deus, mas ainda não era uma rendição total. Deus me
chamava para ser um pregador, mas meu coração estava endurecido para Sua voz. No
entanto, em 1976, numa convenção da CIBI realizada em Brasília-DF, o Senhor
atuou extraordinariamente em mim, acabando com toda a resistência. Desta vez
meus joelhos se dobraram numa entrega total ao meu salvador e senhor. Imediatamente
cancelei a matrícula na faculdade, pedi demissão da empresa que trabalhava, e
comecei a preparação para ingressar no seminário com o fim de ter preparação
teológica.
Por essa minha atitude muitas pessoas me chamaram de louco,
outros de inconsequente, e alguns brincavam dizendo que fui enganado por uma
cigana. e por isso alguns me chamaram de louco, outros de inconsequente.
Todavia, o que me importava era que meu coração transbordava de paz e se deixou
inundar de amor pelos perdidos.
Lembro-me que no dia três de
março de 1977 sentei-me emocionado no primeiro banco da capela do seminário para
assistir a aula inaugural, cheio de emoção.
“Vocês são bem vindos a esta «Casa de Profetas»”, disse o
diretor. Meu peito ardeu ao impacto destas palavras, embora não compreendesse
ainda seu real significado.
Iniciei na biblioteca minhas atividades de estudante. Eu queria
saber o que significa ser um profeta do altíssimo, e descobri algo maravilhoso,
que produziu em mim um impacto tremendo e grande responsabilidade. A função do
profeta é declarar aos homens a Palavra de Deus (Dt 18.15-19), isto é, ele não
pode aparecer diante dos homens sem ter passado antes pela presença de Deus
(1Rs 17.1; 18.15). é nisso que reside sua autoridade para declarar “Assim diz o Senhor”. Meu pastor havia me ensinado
alguma coisa sobre homilética, a “arte de pregar”, mas, naquele momento,
compreendi que a responsabilidade do pregador vai além da atividade de enunciar
um sermão bem elaborado.
Tornei-me um pregador! Esta gloriosa tarefa enche
meu coração de profundo temor de Deus e responsabilidade com Sua Palavra. Deste
o tempo de minha preparação ministerial e dentro destes 30 anos de ministério
minha vida e mensagem foram profundamente abaladas e motivadas pelo texto de
Ezequiel 2.1-7, que pode ser reduzido na seguinte frase: “Filho do homem, tu
lhes dirás as minhas palavras, e eles, quer ouçam, quer deixem de ouvir, hão de
saber que esteve no meio deles um profeta”.
Escrevi um livro
com este título no desejo de oferecer a novos pregadores orientação simples e
prática para que possam preparar suas mensagens tendo a Bíblia com único e
insubstituível manual.
Dói meu coração observar
os rumos da pregação na atualidade. O púlpito tem sido maculado, algumas vezes
por uma pregação vazia, carente de fundamentação bíblica, e outras vezes por
pregadores que, apesar de certo conhecimento bíblico, desconhecem as principais
regras da homilética e acabam por isso perdendo a atenção do auditório, quer
pela falta de uma adequada organização do sermão como pela falta de
criatividade ou eloquência, e, outras vezes, o que é pior, por homens que
torcem o sentido das escrituras para satisfazerem seus próprios interesses.
É muito grande a responsabilidade
daquele que se apresenta para pregar a palavra de Deus, por que na sua tarefa
ele desenvolve pelo menos três funções muito importantes:
A
primeira função é A função profética,
que é declarar aos homens, custe o que custar, a Palavra de Deus (Ez 2.1-7; Dt
18.18-20). Muitas vezes os profetas deviam
ser inflexiveis com o pecado e isso nem sempre é agradável. Assim como os
profetas muitas vezes foram perseguidos por causa de sua mensagem um pregador
deve estar disposto a arcar com as consequências de sua mensagem e não pode
vacilar.
A
outra função do pregador do evangelho é a função
pastoral. Há uma singular compatibilidade entre mensagem e vida, e o
pregador deverá praticar na congregação sua mensagem, alimentando as ovelhas,
indo atrás da desgarrada, mostrando amor e responsabilidade.
Por
último, o pregador tem também uma função
sacerdotal. O sacerdote tem a missão de abençoar (Nm 6.23,27), interceder
diante de Deus e oferecer os sacrifícios pelo pecado do povo (Nm
18.1,5,7). Além
disso, de acordo com o Velho Testamento, ele é aquele que toma conta do
tabernáculo, tendo o cuidado de acender e conservar acesas as lâmpadas do
santuário (Ex 27.20,21; Lv 24.3,4); e manter sempre aceso o fogo do
altar (Lv 6.12,13).
Esta é uma analogia muito preciosa daquilo que se
espera de um ministro do evangelho. A igreja do século XXI precisa verdadeiros
homens de Deus, pessoas que como os profetas denunciem os problemas das
comunidades; como os sacerdotes ministrem ao coração do homem e façam
intercessão por seus pecados e como pastores dispensem o cuidado e orientação necessários
para uma vida completa. A igreja transformadora deve fazer a vontade de Deus e
os pastores são os responsáveis para que ela cumpra sua missão.
Muitos
falsos mestres surgem hoje trazendo um evangelho utilitário, falando apenas as
coisas que o povo quer ouvir, mas ouça o recado de Paulo dado ao seu filho
Timóteo, capítulo dois:
“Tu porém, permanece naqulo que aprendeste e de que foste inteirado,
sabendo de quem o aprendeste (3.14); prega a palavra, insta, quer seja oportuno
quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina, pois
haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina, pelo contrário, cercar-se-ão
de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos
ouvidos” (4.2,3).
José Aldoir Taborda